Ainda existe, bem no âmago da sociedade portuguesa, uma grande cisão entre dois blocos antagónicos, nascida no pós 25 de Abril, que põe frente a frente forças revolucionárias de cariz socialista e forças conservadoras de direita. Este confronto arcaico é dolorosamente evidente na diferença de pontuação entre Salazar e Cunhal e os restantes candidatos, e a explicação é simples. A partir do momento em que um deles se revelou como forte candidato, os detractores da sua obra (e não necessariamente seus apoiantes) uniram-se em bloco para apoiar o candidato da outra "facção".
Não costumo apoiar Paulo Portas nas suas palavras ou acções, mas a constatação deste "picanço" televisivo foi particularmente pertinente no calor da discussão dos resultados.
Depois, e mais gravosamente, revela um completo desinteresse pelas REAIS grandes figuras da nossa história, e, consequentemente, pela cultura colectiva riquíssima que temos como povo. Não negligenciando a importância das duas figuras em questão, e especialmente da sua enorme relevância política no século XX, há que ter em atenção que somos um povo com quase 900 anos de existência e que, nesse portentoso intervalo de tempo, houve figuras BEM mais marcantes e influentes.
Muitos atribuirão este resultado a um protesto simbólico pelo estado das coisas, que, dizem alguns, estão pior do que no pré 25 de Abril. Eu atribuo, realmente, este resultado a uma das mais graves falhas do período pós revolucionário, a Educação. Como é possível que, 30 anos depois, ainda haja um povo com tão pouco discernimento, tamanha falta de inteligência e sensibilidade, e copiosa ignorância cultural que vá votar maioritariamente numa personalidade que remeteu o nosso país ao isolamento económico, cultural e social durante 40 anos. É uma acefalia colectiva digna dos mais relevantes anais sociológicos.
É que estamos a falar da pessoa que disse que : "Um povo culto é ingovernável.".
É portanto perfeitamente compreensível a fidelidade de tanta gente estúpida.