28/12/2007

A Lily e a Direita.

Há musicas que nos marcam bastante, seja pela sua relevância num certo período da vida, seja pela sua qualidade.

Depois de entrar em contacto com uma das melhores bandas de sempre, os The Who, houve uma música (entre algumas) de que gostei especialmente, e que me ficou no ouvido.

Esta música chama-se "Pictures of Lily".

Ora como acontece com muitas músicas, não percebemos bem o seu significado até as ouvirmos vezes sem conta.

Quando a comecei a perceber, descobri que fala tão somente em esgalhar o pessegueiro, pintar azulejo, espancar o macaco... sim, falava em masturbação. O sujeito não consegue dormir à noite, fala com o pai, o pai dá-lhe uns posters de uma gaja nua para ele colar nas paredes do quarto, e ele passa a dormir mais descansado. É esta a base da história.

Óbvio que, a partir dessa iluminação, se tornou AINDA MAIS favorita, dado que só mesmo génios para fazerem uma tão boa música à volta de um assunto tão constrangedor mas ao mesmo tempo, tão universal como este.

De músicas boas está o mundo cheio, mas esta é particularmente brilhante, tanto pela riqueza musical como pela inocência poética. Ouçam-na. Aposto que gostavam dela automaticamente se não tivessem lido isto primeiro.

No último post fiz prestei homenagem a um senhor chamado Keith Moon. É ele à bateria desta grande banda.

25/12/2007

To Moon, the Loon.

Um dos melhores bateristas de sempre, de uma das melhores bandas de sempre.
Sempre único, para o melhor e para o pior.
Símbolo de uma geração, de uma época e de um modo de vida.
Que a sua autenticidade seja recordada, e que a sua lenda permaneça viva.

There are more stories about Keith Moon and his antics onstage and off than about anyone else in rock music.

And the amazing thing is... most of them are true.


Bom Natal Keith.

24/12/2007

Agracia-mos.

O Natal é uma bonita época. Pessoalmente gosto por dois motivos essenciais, está frio e a lareira está acesa. Também porque posso extorquir o progenitor com maior eloquência, visto que o espírito natalício é a desculpa perfeita para qualquer coisa relativamente barata que me passe pela cabeça.

Estranho, que a maioria das pessoas que desprezam a sua natureza consumista, que mais se focam na sua eminência capitalista e suja sejam as mais sensíveis à reciprocidade natalícia. Esta é tão somente aquela mania "à la Mafiosi" de retribuir, seja o que for, com uma prenda. Mais que o consumismo, é isto que me preocupa.

Eu quero é que se lixem aqueles que dizem que as pessoas são atraídas para esquemas de marketing que, no Natal, as levam à falência. Partindo do princípio que somos todos humanóides, acho que o cérebro tem funções (escondidas!) que permitem evitar essas situações. Só se lixa quem quer, e se não querem cair na ratoeira, deixem de ser ratos.

Preocupa-me muito mais todo o enquadramento do ritual de dar e receber prendas. Deixámos de dar porque gostamos. Passámos, muitos de nós, a dar porque "temos de", porque entrámos num ciclo estúpido de "se tu me dás, eu dou-te igual", começámos a avaliar as prendas recebidas pelo seu valor monetário e não pelo simbólico, deixámos de nos identificar com a ideia de bondade e mais com a de aproveitamento ganancioso e, imagine-se, ofendemo-nos com prendas baratas sem nos ofendermos com a sua ausência.

Amigo meu não o é pela oferenda de um par de meias. Amigo meu não o é por me ter pago um almoço. Se eu, na condição de amigo, faço um favor ou um serviço a outra pessoa, não espero que ela me dê nada no Natal, porque se der, com essa intenção (o que é perfeitamente perceptível) está-me a pagar por algo que eu quero dar, e consequentemente a ofender-me. Aí, com toda a educação, manda-lo-ei enfiar os Mon Chérie na peida.

Claro que, no contexto hipócrito-empresarial, fica sempre bem uma garrafinha de Scotch. O favor material é excelente lubrificante de qualquer relação de negócios e nesse contexto, defendo a lembrança natalícia. Agora, no contexto do grupo de amizades ou, mais flagrantemente, do familiar, acho que as mesquinhices que o Natal gera em muitos, a febre da obrigatoriedade de dar, a necessidade de agraciar para ser agraciado são dos padrões de comportamento mais estupidificantes que existem.

Trata-se de um comportamento desviante e falso, que em nada promove a espontaneidade e a verdadeira amizade, os verdadeiros valores humanos de ... quais eram mesmo?

Aliás, é isso e eu ter recebido um After Shave de uma pessoa que nunca vi na vida. Já sei onde o usar! Obrigado amigo! No próximo Natal eu retribuo!

21/12/2007

Não Travem!

Eu gosto de inventar teorias, e gosto de as aplicar para meu próprio proveito. Como todo o bom teórico, desafio quotidianamente as minhas teorias, testando a sua aplicação prática.

Esta é contextualizada com a minha condição de utente das Estradas de Portugal, nas quais frequentemente me deparo com níveis patogénicos de estupidez, parolice e acefalia às quais tento não ligar. Há no entanto uma que me toca num ponto do meu subconsciente que me faz querer-me atirar contra um rail. As pessoas que travam por tudo e por nada.


Sim, eu concordo com as campanhas de sensibilização contra a velocidade na estrada, mas daí a concordar que a velocidade mata, não. A estupidez sim, mata. Essa é uma verdade tão adquirida como um vegetariano ser uma pessoa eminentemente desinteressante e obtusa. O pedal da direita não é nenhuma tentação malévola do Demo! Ele deve ser usado e bem, o problema é que 90% das pessoas que andam na estrada parecem bipolares, ora acelerando que nem doidos, ora travando perigosamente. E é aqui, senhores, que reside o problema maior do nosso tráfego.

O que eu peço é simples: Não travem! Com tanta gente a berrar contra os altíssimos preços da gasolina, não travar é uma alternativa perfeitamente viável a comprar um Prius (que equivale a cometer um suicídio longo e penoso com uma faca da fruta). Se não se travar, não se tem de acelerar de novo para readquirir a velocidade desejada e isto aplica-se a tantas circunstâncias do vosso circuito diário que ficarão parvos com o quanto pouparão.

Senão vejam-se algumas consequências deste comportamento:
  • Há filas intermináveis, que causam stress.
  • O stress causa que as pessoas acelerem à toa e travem à toa...
  • ... causando ainda mais acidentes.
  • ... e ainda fazendo com que as pessoas fumem mais, aumentando a incidência de cancro do pulmão.
  • É por causa destas pessoas que se gasta ainda mais CO2 do que o necessário.
  • ... Matando ursos polares e outros bichos fofinhos.
etc etc etc..

NÃO TRAVEM! Tornar-se-ão melhores pessoas, matarão menos Pandas e já não terão a necessidade de comprar um carro híbrido feito de plástico reciclado de um Playmobil ou de andar de transportes encostado ao senhor com icterícia.

Sejam comedidos na vossa condução quotidiana. Metam um autocolante fluorescente no pedal do meio a dizer "Use with Moderation". Pouparão gasolina, anos de vida, e obrigar-me-ão a ser menos ordinário quando eu próprio tiver de travar atrás da traseira do vosso Hyundai.

05/10/2007

A Praxe Académica.

É sempre com um grande nojo e com um grande desprezo que eu ouço falar mal da mui nobre Praxe. É também com um enorme asco que vejo aqueles tristes papéis e flyers, daquelas tristes pessoas que não compreendem o que ela representa. Tal como em tudo, só quem esteve ou está na Praxe deveria falar dela, pois a quantidade de desinformação a circular pelos meios de comunicação social é grande, e, não raras vezes, influenciadora de mentes ignorantes.

O que sei eu sobre a Praxe? Sei aquilo que devo saber. Aquilo que me faz amá-la e respeitá-la, como veículo de experiência, de respeito, partilha e amizade.

Aqueles que apregoam que a hierarquia é estúpida, e que todos são iguais, não são mais do que renegados anti sistema, que se recusam a aceitar o funcionamento das sociedades humanas como elas são. Em tudo há hierarquia. Numa empresa ela é fundamental para o bom funcionamento dos processos, em casa há que respeitar os mais velhos, na escola os mais sapientes.
Compreender que, um dos objectivos da Praxe, é formatar as imberbes mentes daqueles que pensam que tudo sabem para que melhor se adaptem a uma realidade totalmente diferente é meio caminho andado para perceber o que ela realmente trata, e o motivo pela qual ela é respeitada.

Pela Praxe, e pelo respeito que se ganha aos colegas superiores, e pela irmandade que se forma no esforço e na dificuldade das provas, os caloiros surgem muito mais preparados para as agruras de uma vida que nunca será fácil.

Claro que há sempre aqueles que se servem da Praxe, e há sempre os que querem praxar com o objectivo de se vingarem do que passaram no ano anterior, mas é nossa missão, doutores da Praxe no geral, de clarificar as coisas, de fazer compreender que nós estamos ali por eles, pelos caloiros, e não por nós. É a eles que temos de servir, como professores de lições que nunca esquecerão, lições que levarão para o resto da vida académica e, esperemos, não só.

Óbvio que é também pela hierarquia que se evitam abusos, uma vez que a Praxe dura para toda a vida académica do estudante, ao contrário do que muitos possam pensar. A responsabilidade é dos hierarquicamente superiores, de zelar pelo seu bom funcionamento, para que não haja abusos passíveis de figurar em horário nobre de qualquer televisão, atirando todos, sem excepção, para o lado negro de uma opinião pública, ja por si, frágil.

Outra coisa que me parece que muitos falham em compreender, é que o traje académico não é um acessório de moda. Através dele todos os estudantes são iguais, eliminando-se barreiras socio-económicas, políticas e de raça. Envergando-o, somos todos irmãos. É esse o seu objectivo, fomentar a humildade, a cordialidade, a responsabilidade e a entreajuda. Poder-se-à argumentar que o seu preço é elevado para a carteira mais necessitada, mas então porque é que nalguns sítios toda a gente o usa e noutros não? Só não usa traje que não quer, quem não quer fazer o sacrifício de poupar os trocos por dia para o comprar. Mas talvez seja melhor assim... só deve usar o traje quem realmente o amar e respeitar.

Isto tudo por ontem estive numa festa com os meus antigos colegas da Faculdade de Ciências, e já tinha saudades daquela união, daquela força conjunta, daquele espírito de igualdade e amizade. É graças à Praxe que ele existe, e foi graças à sua Praxe que muito aprendi... Diz-se que não há amor como o primeiro, mas eu espero pagar em dedicação à minha casa, ao meu ISCTE, o que tive na FCUL em intensidade. E, na instituição que represento, espero que cada vez mais se compreenda a importância da Praxe, e o seu simbolismo como instrumento de integração, e não de aproveitamento ridículo por pessoas que, durante 4 dias, podem finalmente ser alguém. Mas enfim, isso é tema para outra oportunidade.

Dvra Praxis Sed Praxis.

E que para sempre perdure.

17/09/2007

iChange

Nunca gostei muito de generalizações. Apesar de o meu professor de Psicologia me ter ensinado que são formas fundamentais de arrumação de conteúdos no cérebro, e peças fuclrais no acesso a essa mesma informação, também aprendi os seus perigos. As generalizações nunca estão certas. Por muito que se acredite que todos os Americanos são gordos e burros, a verdade é que muitos deles não são. Por muito que se acredite que todos os coreanos comem cães, a verdade é que muitos não comem. A verdade é que eu criei no meu cérebro um utensílio que dissolve a generalização (geralmente chamam-lhe bom senso), que torna a minha imagem do mundo um pouco menos monocromática.

Outra coisa que me faz alguma espécie, é o que eu gosto de chamar o Complexo da Escada. Tal coisa não é mais que um sentimento automático de superioridade cada vez que subimos um degrau da vida, seja académico, laboral, amoroso, psicológico, real ou inventado. Um bom exemplo deste complexo é quando se entra no ensino superior. É inevitável sentirmo-nos sempre, e sem querer, superiores aos alunos do secundário, quer pela idade ou pela experiência que pensamos adquirida. Isto mesmo tendo em conta que não passávamos de meros alunos do secundário, há meses.

Confesso que sofro um pouco desse complexo, tal como sofro da generalização e, muitas vezes, dou por mim quer a disfrutá-los, quer a combatê-los.

Isto tudo porque comprei um Mac.

Pensava eu, que os utilizadores de Mac eram vegetarianos abstémios, nascidos em São Franscisco e que usavam camisas coloridas e mocassins. Pensava também que toda a hype em volta dos seus produtos não passava de isso mesmo, e que, no que a computadores diz respeito, estaria sempre muito melhor com um PC. Sempre vi um Macintosh como quem vê um prato exótico feito no Sri Lanka: Curioso, mas algo que nunca provaria.
O problema foi que algo mudou na minha percepção das coisas. Em vez de um uber computador para jogos, optei antes por um laptop, algo que me permitisse, primeiro trabalhar, e depois divertir-me. Um amigo comprou recentemente um Macbook e mostrou-me algumas das características, com a veemência de qualquer Steve Jobs numa apresentaçao keynote. Não fiquei imediatamente convencido, porque obviamente que estava demasiado ligado ao mundo dos PCs para fazer uma mudança tão brusca. Pensei eu que, o prato exótico seria radicalmente indigesto e que me tornaria num renegado informático. Foi aí que notei em algo tão básico, que despertou na minha básica natureza, um básico sentimento. O software é bonito...

Bonito e funcional. Pensei eu que finalmente poderia gostar de trabalhar e que poderia ser agradável passar tempo a olhar para um monitor. Se me perguntarem se prefiro ter um escritório com vista para o Central Park ou um com vista para a Brandoa, a resposta é óbvia, e creio que foi esse o click. Tudo é mais bonito num Mac. Desde o browsing, das aplicações mais básicas às mais complexas, dos menus às fontes, tudo é agradável, simples e intuitivo. Para além do mais, todas as coisas que julgava exclusivas da utilização do PC, na verdade não o são, podendo-se fazer exactamente as mesmas coisas, mas de forma mais agradável. Claro que tudo isto seria redundante se as coisas não funcionassem, o que não é o caso. Tudo acontece naturalmente, de forma fluida, sem grandes esperas. Todas as tarefas, básicas ou não, são fáceis de executar permitindo-nos concentrar no que realmente importa, o trabalho em si.

As virtudes são incontáveis e seria extenuante tentar enumerá-las, no entanto, e apesar de ser um utilizador por vezes ridiculamente exigente, confesso-me rendido, e ainda entusiasmado com este novo mundo. E se tiver de ser visto como um vegetariano que usa mocassins, então que seja. Na minha mente, estarei sempre um degrau acima de qualquer utilizador de PC.

14/08/2007

Vegetarianismos.

Tenho muitos amigos que não comem carne por princípio. Há pessoas que conduzem Hyundais, há outras que põem purificadores nos canos da água e há ainda outras que preferem vodka a gin e no entanto, só não vejo qualquer pingo de lógica naqueles que não apreciam entrecosto.

Percebo perfeitamente quem conduza Hyundais, são formas baratas de ir de A a Z. Percebo também, até certo ponto, quem põe purificadores de água dado que são as mesmas pessoas que usam protector solar de factor 250+ e só fazem sexo em lençóis lavados, e não tenho nada contra isso. Percebo também que haja pessoas a nascer sem a parte do cérebro que determina o bom gosto, e portanto prefiram vodka a gin.

Agora não percebo qual é o estado mental que leva alguém a deixar de comer carne. Qual é o substituto de uma boa entremeada? Tofu? Querem-me convencer que, o que parece um pedaço de caca com 400 anos é o substituto de um suculento bife, regado um bom e fino molho, acompanhado de um excelente arroz? Dizem também que é mais saudável, que a gordura presente em muita carne é responsável por doenças cardiovasculares e que as proteínas animais são (*bocejo*) menos saudáveis que as vegetais e (a minha parte favorita), que seguindo esta via, viveremos uma vida mais equilibrada e longa. Tudo isto é muito bonito, muito Bloco de Esquerda. O problema é quando vem envolto numa pretensa superioridade moral de quem não está a matar animais para satisfazer a sua gula, de quem, ao tornar-se vegetariano, está a contribuir para que vivamos num mundo melhor.

Isso irrita-me.
Se eu quiser viver mais, tiro o rabo da cadeira e vou fazer exercício, ou fazer qualquer coisa que me estimule o espírito, não preciso de abdicar de coisas que me fazem apreciar a vida. Dizem-me para não conduzir, que é perigoso e poluí, para não fumar (e aí concordo, fumar é um vício horrível), para não beber álcool, para não comer costeleta de porco porque pode ter hormonas, para não nadar em praias públicas porque podem estar poluídas, se uma criança cai num parque, culpa-se o designer do parque porque não era suposto a criança cair (hello? é uma criança, elas caem!). Credo! Toda uma panóplia de vegetarianismos que não fazem mais do que proteger-nos da alegria da viver! E há pessoas que acreditam mesmo nisto tudo, estando nós assim a criar uma geração de chatos, de gente aborrecida, mais preocupada em viver muito do que em viver bem.

Nos últimos anos temos chegado a esperanças médias de vida muito superiores às de outrora, e isso é engraçado, mas o que é demais é moléstia. Para que é que eu quero viver até aos 100 anos? Para chegar aos 80 e viver mais 20 anos sem poder fazer sexo, comer um bife e beber Martini? Não obrigado. E depois os problemas para a Segurança Social seriam enormes! Já imaginaram a quantidade de velhos a que se teria de pagar? O que eles deviam fazer era promover, em plena televisão pública, uma vida boémia, de sexo, drogas e rock´n roll. Assim as hipóteses de ruptura no sistema de pensões seria bem menor.

Eu não tenho nada contra vegetarianos, tal como não tenho nada contra Testemunhas de Jeová. Desde que não me tentem converter, estamos bem.

08/04/2007

O Neo-Pseudo-Salazarismo.

Foi sem surpresa que o mal afamado concurso "Os Grandes Portugueses" teve um final dramático. Foi também sem surpresa que os dois candidatos mais recentes foram aqueles que ocuparam os dois primeiros lugares.

Dadas as características destes dois candidatos, isto revela duas coisas.

Ainda existe, bem no âmago da sociedade portuguesa, uma grande cisão entre dois blocos antagónicos, nascida no pós 25 de Abril, que põe frente a frente forças revolucionárias de cariz socialista e forças conservadoras de direita. Este confronto arcaico é dolorosamente evidente na diferença de pontuação entre Salazar e Cunhal e os restantes candidatos, e a explicação é simples. A partir do momento em que um deles se revelou como forte candidato, os detractores da sua obra (e não necessariamente seus apoiantes) uniram-se em bloco para apoiar o candidato da outra "facção".


Não costumo apoiar Paulo Portas nas suas palavras ou acções, mas a constatação deste "picanço" televisivo foi particularmente pertinente no calor da discussão dos resultados.

Depois, e mais gravosamente, revela um completo desinteresse pelas REAIS grandes figuras da nossa história, e, consequentemente, pela cultura colectiva riquíssima que temos como povo. Não negligenciando a importância das duas figuras em questão, e especialmente da sua enorme relevância política no século XX, há que ter em atenção que somos um povo com quase 900 anos de existência e que, nesse portentoso intervalo de tempo, houve figuras BEM mais marcantes e influentes.
Muitos atribuirão este resultado a um protesto simbólico pelo estado das coisas, que, dizem alguns, estão pior do que no pré 25 de Abril. Eu atribuo, realmente, este resultado a uma das mais graves falhas do período pós revolucionário, a Educação. Como é possível que, 30 anos depois, ainda haja um povo com tão pouco discernimento, tamanha falta de inteligência e sensibilidade, e copiosa ignorância cultural que vá votar maioritariamente numa personalidade que remeteu o nosso país ao isolamento económico, cultural e social durante 40 anos. É uma acefalia colectiva digna dos mais relevantes anais sociológicos.

É que estamos a falar da pessoa que disse que : "Um povo culto é ingovernável.".

É portanto perfeitamente compreensível a fidelidade de tanta gente estúpida.

29/01/2007

O Síndrome das Mamas.

Porquê, oh porquê?!

Eis algo que me vem atormentando há bastante tempo, algo que nunca consegui compreender na totalidade e que, dada a natureza do problema, não me é permitido perguntar.

Porque é que uma rapariga com um bom par de mamas vê em outras que não conhece, e que têm bons atributos, uma adversária... uma rival mortal?

Isto é verídico. Uma rapariga cujas glândulas mamárias sejam mais preponderantes que o normal e tenha uma visão eminentemente narcisista de si própria tem uma tendência natural para a marcação de território. Não mija pelos cantos, não, mas assim que um indivíduo do sexo masculino, relacionado de alguma forma com a dita mamalhuda, faz um comentário acerca das formas de qualquer outra, esta imediatamente a ataca, seja insinuando-lhe defeitos de pormenor, seja questionando a sua moral ou até, nos casos mais extremos, comparando directamente os seus atributos aos da visada.

É curiosíssimo verificar que tal não acontece em relação à beleza facial, quiçá pela subjectividade de tal característica, tal como não acontece em relação ao rabo pois esse normalmente é classificado conforme a circunstância da discussão (a flexibilidade nos critérios de qualidade aqui é imensa) nem muito menos acontece em relação à altura, visto que, como toda a gente sabe, os dotes peitorais são, normalmente, proporcionais à medida vertical da mulher em questão.

O que me trás a uma excelente questão. Uma mulher alta com um gostoso par de mamas, que faz virar mais cabeças do que a mamalhuda comum (mamalhudis normalis), dá origem a uma raiva sobrenatural e a um mal-estar profundo nesta, que, rapidamente, ou manda uma boca qualquer para desmistificar os atributos da outra, ou usa um argumento falacioso para se colocar num pedestal.

Se estes fenómenos ocorrerem enquanto outras mulheres estão presentes, é mais fácil para a mamalhudis normalis especialmente se houver no seio do grupo, uma outra, com a qual poderá criar uma relação de cumplicidade, a chamada tetócumplicidade, que só serve quando precisamente se está a atacar outrém. Se não houver outro par de mamas do seu nível na redondeza das relações de amizade, ao marcar território aproveita para se demarcar das demais por força do pouco tecido adiposo que estas possam ter sobre o músculo peitoral.

Há que referir, com justiça, que nem toda a mamalhuda é assim. Normalmente estas têm sérios problemas de auto-estima, problemas que tentam resolver pondo vários homens a julgá-las por putas.

Reparem pois, no comportamento da consciência por detrás do próximo par de voluptuosas mamas com que se depararem, sob um olhar mais analítico, e observem este fenómeno qual David Attenborough no meio da selva. Pode ser que um dia haja um BBC Vida Selvagem sobre o assunto.

06/01/2007

Egocentrismo.

"do Lat. ego, eu + cêntro


s. m.,
tendência pessoal exagerada em considerar tudo sob o próprio ponto de vista e em fazer de si próprio o centro do universo;



subjectivismo. "

O ser humano está paranóico. O ser humano é egocêntrico a ponto de não ver para lá de si, a ponto de ser como um cão atrás da própria cauda. Vivemos hoje num tempo em que as pessoas têm medo da natureza, em que o natural passaram a ser muros de betão e chão de cimento e esse passou a ser verdadeiramente o nosso meio. Vivemos num tempo em que cada vez mais se mama forte no Xanax e no Prozac, em que cada vez mais alheamos a nossa atenção da nossa verdadeira essência e nos focamos apenas no que acontece entre os muros de betão e o chão de cimento.

Como descrito na definição de paranóia, a superioridade que o homem pensa que tem em relação ao meio fá-lo ser arrogante. A raça mais inteligente, diz-se, não consegue compreender que é tão somente uma variável do sistema. Animais irracionais conseguem compreender o equilíbrio natural, e agem com o intuito de o preservar. Onde é que nós perdemos essa noção básica?

Não estou a dizer, contudo, que temos de voltar à Idade Média, para levar com a peste e com a tísica, mas também discordo em absoluto das mãezinhas que criam flores de estufa que, passado uns anos espirram quando apanham um grão de pó. É um pouco como ir acampar... faz impressão dormir no chão rodeado de bichos? Bem, é assim que todos os outros animais vivem. O que somos nós a mais do que eles? Mais inteligentes? Não creio. Ao protegermo-nos cada vez mais estamos a alimentar o nosso ego e a nossa ilusão de superioridade.

Somos mais egoístas, talvez. As funções superiores do cérebro permitiram-nos conceptualizar que nós somos aquilo que fazemos e fazemos aquilo que somos. Errado. Nós somos o que somos, e que já éramos à milhares de anos. A evolução não nos mudou, mudou apenas as nossas perspectivas. Tão vida como um gafanhoto, tão vida como uma árvore. Só que não o percebemos. Vivemos na ilusão de que, destruindo o equilíbrio, estamos a provar a nossa superioridade quando, na verdade, só estamos a provar a nossa deficiência como variáveis do sistema.

E entretanto, vamos bebendo água purificada por uma máquina, indo ao médico por uma constipação, lavando as mãos depois de tocar uns nos outros, tudo em nome de uma civilização e de um progresso que, apesar de factual e brilhante do ponto de vista do conhecimento, falha na aplicação da mais básica das premissas, a de que somos somente pequenas insignificâncias, face à complexidade do que nos rodeia, do que devíamos verdadeiramente admirar.