14/11/2008

Beautifully Human - Words and Sounds (Vol.2) . Jill Scott

Há artistas que nos impressionam pela pureza das suas palavras, pela orgânica das suas rimas, pela sensualidade das suas melodias mas sobretudo, pela forma como nos levam de encontro à nossa natureza. Uma dessas artistas é sem dúvida Jill Scott, que tem neste segundo albúm o expoente máximo dessa beleza que é ser humano, e da poesia que há em cada um dos nossos sentimentos.







Beautifully Human - Words and Sounds (Vol.2) - 2004







A poetisa de Filadélfia, com esta segunda fornada de palavras e sonoridades consegue ainda uma melhor imersão pelo vasto mundo do que é ser mulher, pelas dimensões do amar e ser amado, da vida quotidiana e pelos matizes do desejo e da tentação.

A complementaridade dos três temas iniciais "I´m Not Afraid", "Golden" e "The Fact is (I Need You), o primeiro ao assumir a responsabilidade pela sua vida, o segundo a celebrá-la e o terceiro a dizer que, apesar disso, a ligação amorosa tem um papel mais do que vital na sua vida, remetem-nos de imediato para esse mundo, retratando uma mulher ciente da sua natureza, ciente do que precisa, claramente esclarecida em relação ao que a faz feliz. A generosa voz e a música a condizer apenas acentuam a força e sinceridade das suas palavras.

Jill Scott neste albúm, mais que uma compositora, é um veículo de honestidade intelectual, uma artista pictorial de sensações comuns a todos nós. "Cross My Mind" é um slow groove de uma sensualidade indescritível, na cumplicidade sexual mas impossibilidade relacional que muitos já experienciámos, e "Bedda At Home", um funk infeccioso que na sua viva e intensa descrição de alguém que desejamos mas não devemos ter, conecta-nos com aquele íntimo que tantas vezes queremos manter fechado. Nessa medida, "Can´t Explain" ainda é mais abrasiva, no arrependimento da traição a alguém que nos amava e na incompreensibilidade de tal acto.
Saindo fora da esfera de si mesma, temos "Family Reunion", um agridoce conto sobre um almoço de família, com todas as tragédias e riquezas de um almoço familiar e "Rasool", a trágica história de um rapaz preso ao triste destino que o espera numa cidade violenta como a sua.

Outros pontos altos do albúm, e uma das minhas favoritas é "Not Like Crazy", no vício repetitivo do seu extraordinariamente belo refrão e na forma cândida como Jill nos canta o progresso de uma história de amor e "Whatever" na celebração do que seria capaz de fazer pelo seu amor.

E é isso que esse albúm constitui, uma celebração da nossa natureza, do quão poderosa pode ser a mensagem do que os nossos sentimentos constituem. E que melhor do que a música e voz de Jill para o transmitirem, pela variedade dos sons de que se serve (Jazz, Funk, Soul...) e pelo quanto ela consegue servir o propósito maior da música, despertar-nos para a nossa própria vida e para as pequenas (?) coisas que a constituem.

1 comentário:

Anónimo disse...

amor, foste tu que escreveste este texto?? É LINDO!