Há artistas que nos impressionam pela pureza das suas palavras, pela orgânica das suas rimas, pela sensualidade das suas melodias mas sobretudo, pela forma como nos levam de encontro à nossa natureza. Uma dessas artistas é sem dúvida Jill Scott, que tem neste segundo albúm o expoente máximo dessa beleza que é ser humano, e da poesia que há em cada um dos nossos sentimentos.
Beautifully Human - Words and Sounds (Vol.2) - 2004
A poetisa de Filadélfia, com esta segunda fornada de palavras e sonoridades consegue ainda uma melhor imersão pelo vasto mundo do que é ser mulher, pelas dimensões do amar e ser amado, da vida quotidiana e pelos matizes do desejo e da tentação.
A complementaridade dos três temas iniciais "I´m Not Afraid", "Golden" e "The Fact is (I Need You), o primeiro ao assumir a responsabilidade pela sua vida, o segundo a celebrá-la e o terceiro a dizer que, apesar disso, a ligação amorosa tem um papel mais do que vital na sua vida, remetem-nos de imediato para esse mundo, retratando uma mulher ciente da sua natureza, ciente do que precisa, claramente esclarecida em relação ao que a faz feliz. A generosa voz e a música a condizer apenas acentuam a força e sinceridade das suas palavras.
Jill Scott neste albúm, mais que uma compositora, é um veículo de honestidade intelectual, uma artista pictorial de sensações comuns a todos nós. "Cross My Mind" é um slow groove de uma sensualidade indescritível, na cumplicidade sexual mas impossibilidade relacional que muitos já experienciámos, e "Bedda At Home", um funk infeccioso que na sua viva e intensa descrição de alguém que desejamos mas não devemos ter, conecta-nos com aquele íntimo que tantas vezes queremos manter fechado. Nessa medida, "Can´t Explain" ainda é mais abrasiva, no arrependimento da traição a alguém que nos amava e na incompreensibilidade de tal acto.
Saindo fora da esfera de si mesma, temos "Family Reunion", um agridoce conto sobre um almoço de família, com todas as tragédias e riquezas de um almoço familiar e "Rasool", a trágica história de um rapaz preso ao triste destino que o espera numa cidade violenta como a sua.
Outros pontos altos do albúm, e uma das minhas favoritas é "Not Like Crazy", no vício repetitivo do seu extraordinariamente belo refrão e na forma cândida como Jill nos canta o progresso de uma história de amor e "Whatever" na celebração do que seria capaz de fazer pelo seu amor.
E é isso que esse albúm constitui, uma celebração da nossa natureza, do quão poderosa pode ser a mensagem do que os nossos sentimentos constituem. E que melhor do que a música e voz de Jill para o transmitirem, pela variedade dos sons de que se serve (Jazz, Funk, Soul...) e pelo quanto ela consegue servir o propósito maior da música, despertar-nos para a nossa própria vida e para as pequenas (?) coisas que a constituem.
14/11/2008
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
1 comentário:
amor, foste tu que escreveste este texto?? É LINDO!
Enviar um comentário