21/12/2006

O Fim da Sic Comédia.

Foi um dia triste, aquele em que eu soube que a Sic Comédia ia acabar. Foi um dia triste, realmente. E é cada vez mais triste quando, automaticamente, mudo para a Sic Comédia, normalmente o 2º canal na ordem do meu zapping, e penso que daqui por dias nada disto já lá estará.

Foram bons tempos, excelentes noites, óptimas tardes a ver boa comédia. Foram bons momentos à frente de um canal que se tornou parte da minha vida, e decerto da de outros, e que era o refúgio de dias mais aborrecidos, mais tristes, mais melancólicos.

Seinfeld, Frasier, Tonight Show, Late Night, SNL (dos anos 90), Everybody Loves Raymond, Bernie Mac, Allo Allo, Benson ... tudo séries que começaram a fazer parte da minha vida, mesmo desconhecendo-as quase por completo. Exemplo mais flagrante do Allo Allo, cuja música me faz sempre lembrar com ternura a minha mais tenra infância, até longas noites a ver Conan O´Brien, tardes a ver os compactos...

Com muita tristeza me despeço, e um agradecimento fica. Obrigado por tudo, obrigado pelos sorrisos, pelas gargalhadas, pela boa disposição, pela simplicidade da fórmula.

Obrigado, e Adeus Sic Comédia.

17/12/2006

A Relação. Reflexão primeira.

Em toda a relação há ciúme. Quer na mais precoce, quer na mais madura. No entanto, o ciúme parece ser algo que, em circunstancias normais, toma um curso decrescente em intensidade ao longo do tempo.
Há quem tenha ciúmes de um animal de estimação querido do parceiro, há quem tenha ciúmes da saída em grupo onde figura uma colega boazuda e depois há aquelas irritantíssimas pessoas, rapazes e raparigas, que martirizam o parceiro sempre que o seu olhar se cruza com matéria humana do sexo oposto (caso sejam heterossexuais, obviamente).


Esta última temática é das que mais asco me dá. Na minha qualidade de homem devo dizer que se há coisa irritante é uma mulher que dá na cabeça do namorado porque ele reparou nas mamas da menina que está a servir à mesa, ou porque olhou para um cú perfeitamente delineado. Não há nada mais hipócrita do que isso. Irrita-me ainda mais o namorado que atura essas merdas. Irrita-me a sua fraqueza em ser manipulado psicologicamente pelos caprichos egomaníacos da namorada. Meninas, se os vossos namorados olham para gajas e comentam gajas com os amigos, isso significa apenas e só uma coisa : Eles têm uma pila, e tão preparados para a usar com vocês.

É tão mais hipócrita quando elas, umas com as outras, fazem comentários badalhocos sobre os tamanhos das pilas dos namorados e sobre a maneira como lhes chupam partes pudibundas. E depois, os paneleiros dos namorados, quando numa conversa saudável de homens, coram e baixam a cabeça quando um amigo mais ousado diz que a morena da mesa à esquerda tem uma mama de fora.

Nos namorados ainda toma uma dimensão mais ridícula. Homem que é homem, não faz fita, amua. Homem que é homem pensa que a namorada quer ir para a cama com cinco pretos assim que ela repara no bartender de carinha laroca. E depois amua, fazendo-lhe a vida negra durante 3 dias, exigindo 1001 palavras de amor.


Depois há a menos conhecida falta de ciúmes. É ela o principal criador de falta de auto-estima numa relação. Imaginem-se, rapazes, a dizer à vossa namorada : "Vou ver um filme pornográfico com a Ana Raquel." e vossa namorada responder : "Vai vai, bom filme! Trás-me o resto das pipocas". É de ficar a pensar se realmente ela gosta de nós. Há varias hipóteses explicativas para este fenómeno. Ou a pessoa é madura o suficiente para não ligar a infantilidades de pessoas que, propositadamente, tentam espicaçar a relação com ciúmes, ou então o ego é exacerbado ao ponto de não se conseguir imaginar o companheiro com mais alguém ou então, e o factor mais importante, a ignorância em relação à natureza humana, instável, imprevisível e sexualmente inflamável.
Uma atitude de total ausência de ciúmes pode ser a receita ideal para uma relação chata e monótona e, consequentemente ou não,para uma surpresa muito desagradável.

Em tudo há um equilíbrio, e estou-me aqui a referir a situações quase limite de parte a parte, pelo que nos entrefolhos haverá muito espaço criativo.

No geral, os ciúmes tão saudáveis. São eles que criam o ligeiro desiquilíbrio que depois de colmatado nos dá aquela sensação de conforto com a pessoa que gostamos. São os ciúmes que nos fazem aperceber do quanto não queremos perder outrém, é esse reality check que, quando não doentio, nos torna mais maduros e mais capazes de enfrentar adversidades da relação.

Podemos até dizer que os ciúmes são uma vacina, isto quando os namorados não são paneleiros e as namoradas não são escravas e guincham palavras desesperadas de amor sempre que temos ciúmes. Não. Quando aprendemos a lidar com eles, quando aprendemos a eliminá-los, crescemos um pouco e promovemos o auto-controlo.


Ou então estou completamente errado e toda a gente tem um par de cornos.

14/12/2006

Hipocrisia 2 - O Regresso.

Ainda sobre a francamente triste temática do mais recente videoclip de STK, sobre a qual tenho pensado bastante, e discutido com quem acho que devo, há uma ou duas ressalvas a serem feitas relativamente ao post anterior.


Não sou um profundo conhecedor da cultura Hip-Hop. A minha área de interesses é demasiado larga, demasiado espalhada pelo que nem sou conhecedor dessa nem de qualquer outra em particular. Isto pode ser justificação para muitos me dizerem, como disseram : "Não percebes tanto como isso, logo não fales". Está certo, mas se formos a ver as coisas por esse prisma então só pessoas altamente especializadas em determinado assunto (conceito demasiado vago) falariam de assuntos que diriam respeito à sua área. Mas enfim, não me quero alongar muito por aqui.

A questão é que tenho a plena sensação de que fui demasiado duro nas críticas feitas. Continuo a achar que não foi sensato, de forma alguma, o uso do nome dos Moonspell, ainda que com boa intenção, ainda que não tivesse qualquer intenção de os visar pessoalmente. Continuo a achar que o feedback gerado e a cobertura mediática não foram nada benéficos para a música Portuguesa... e o problema reside exactamente aí.

O problema reside nas pessoas, na sua percepção das coisas. Sam The Kid não é culpado se 95% dos seus fãs são tão doentiamente devotos e tão estupidamente expectantes por um sinal messiânico de pseudo revolução cultural que nem se dão ao trabalho de descodificar o que ele diz, e de perceber, no contexto de toda uma cultura, do que é que ele é feito. Sam The Kid não é também culpado pelo jornalismo sensacionalista e nojento que se faz no nosso país, que aproveitou imediatamente essa fraca interpretação das suas palavras para criar uma guerra de palavras entre Hip Hop e Metal.

Fernando Ribeiro respondeu mal a esta interpretação, respondeu com veemência,desconhecimento e ignorância pois para isso foi estimulado por uma interpretação falsa e uma provocação baixa. E o ciclo vicioso negativo engrossou-se.


Eu fui injusto, confesso, em tomar nas palavras dele meios para a venda a todo o custo e no seu videoclip MTV uma maneira de se auto publicitar à custa dos outros. Pelos vistos não estava exactamente certo mas o Hip-Hop com que nos deparamos todos os dias na televisão é tão nojento, tão falsamente refinado, tão vazio que não é difícil interpretar por aí.


Mas isso é uma conversa para outro dia.

11/12/2006

Hipocrisia?

Saiu há pouco tempo uma nova música de um rapper sobejamente conhecido pela nação hip-hop portuguesa, música essa que veio despertar ódios e paixões pelo seu conteúdo. O nome da pessoa é Sam The Kid, a música chama-se "Poetas de Karaoke" e já tem divulgação assegurada via You Tube e MTV.

Na dita música são criticadas todas as bandas Portuguesas que não cantem na língua mãe, crítica apoiada no videoclip por personalidades bem conhecidas do panorama musical Português, como Rui Veloso ou Zé Pedro. Houve no entanto, no meio de uma espatafúrdia "invasão" a uma rádio Portuguesa e de outras afirmações de personalidade tão comuns nos rappers, uma frase que chamou a atenção e que vou passar a transcrever :

" Querem ser os "Moonspell" querem novos altos horizontes mas aqui o Samuel é Madredeus ou Dulce pontes"



Aqui podem transparecer duas coisas :

1º Um egotismo prosaico que em nada lhe fica bem, ao comparar-se a Dulce Pontes ou aos Madredeus. Percebo que, no contexto faz sentido, mas não deixa de ser algo de extremamante irritante.

2º Insensatez. Ao falar dos Moonspell num clip que critica as novas bandas Portuguesas que cantam somente em inglês, Sam The Kid passa a mensagem de que TAMBÉM os Moonspell, talvez a banda Portuguesa com mais albuns vendidos no estrangeiro e cuja "fanbase" se encontra mais lá fora, são alvos da sua crítica.
Isto é seriamente discutível. Quando Sam diz "Querem ser os Moonspell", está a direccionar a sua crítica para as bandas que aparecem agora e que, à semelhança destes, cantam em inglês porque "está na moda". Mas é claro que a generalidade dos fãs de Sam The Kid não é exactamente inteligente nem está preocupada em interpretar correctamente as suas palavras, basta ver qual o canal onde as suas músicas são mais divulgadas.

Isto cria toda uma corrente contra bandas que muito têm dado à música em Portugal, bandas como os The Gift, David Fonseca, os próprios Moonspell, sendo que um dos, senão o melhor rapper Português, se está a servir, provavelmente sem querer, do descrédito de alguns para potenciar o seu próprio sucesso. Isto para alguém que apregoa querer mudar para melhor a música Portuguesa, soa-me definitivamente hipócrita.

Sam The Kid não é diferente dos vendidos de que fala, agora o provou. Ele é vendido da forma mais disfarçada possível, que é apontando o dedo não distinguindo aqueles que cantam em inglês para vender mais discos dos que, legitimamente, andam a fazer música de sucesso e a espalhar o bom nome de Portugal pelo mundo. Basta um clip bem produzido, com "Rui Velosos" e "Zé Pedros" à mistura para um pouco de credibilidade, ser inteligente o suficiente para prever algumas críticas no próprio videoclip e divulgá-lo em canais tão intelectualmente credíveis como a MTV.

É pena, pois é dos mais talentosos MC´s em Portugal, com uma capacidade verbal e imaginativa como poucos têm. É pena, pois apesar de concordar com ele em muito do que diz, meter algumas bandas que são mais do dobro do que ele algum dia vai ser em jogo para promover um disco e promover ainda a ideia de que é o cavaleiro andante da língua Portuguesa fê-lo descer muito na consideração de muitos, que até o levavam bem a sério, eu incluído. É pena, que se tenha aventurado para além do que devia, ridicularizando-se e criando rivalidades onde nunca o devia fazer.